terça-feira, 28 de abril de 2015

Os Vingadores: Era de Ultron — Fan-service ou mais um trabalho competente? (Crítica)



Dirigido e escrito por Joss Whedon, o mesmo diretor do primeiro filme, Os Vingadores: Era de Ultron (Avengers: Age of Ultron) — um dos filmes mais esperados do ano — traz o grande elenco de sempre: Chris Evans, Robert Downey Jr., Chris Hemsworth, Jeremy Renner, Mark Ruffalo, Scarlet Johansson e outros.

Partindo da premissa estabelecida pelo último grande blockbuster da Marvel relacionado à Terra (isto é, Guardiões da Galáxia não conta), Capitão América: O Soldado Invernal, a S.H.I.E.L.D. não existe mais e os Vingadores agora são equipados e financiados por Tony Stark.

Esse novo longa é aberto com a procura dos Avengers pelo cetro usado por Loki no filme anterior, o que leva os heróis a terem o primeiro contato com os novos principais personagens: os gêmeos inumanos Wanda Maximoff/Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) e Pietro Maximoff/Mercúrio (Aaron Taylor-Johnson). Enquanto isso, um novo perigo acaba surgindo, vindo das "entranhas" dos próprios Vingadores.

Os Vingadores: Era de Ultron é um filme cheio até o topo, quase transbordando, com cenas de ação fantásticas recheadas de CGI que, quando conciliadas com a direção de Joss Whedon, enchem os olhos de qualquer nerd que se preze, como um blockbuster desse porte deveria ser. Não há nenhum momento em que você terá a sua imersão quebrada por algum efeito especial mais chamativo e mal trabalhado que os outros. Você sabe que é computação, mas isso não te afeta e parece bem real. Entre as cenas de maior destaque que demonstram a ótima conciliação entre CGI e direção primorosa está, principalmente, a primeira cena do filme, que é um plano-sequência lindíssimo de alguns minutos de duração que mostra todos os heróis em ação ao mesmo tempo e é simplesmente fantástico. Mais pro final do filme, há outro plano-sequência, mais curto, que funciona basicamente do mesmo jeito, e é ótimo.

É verdade que a premissa desse longa é quase idêntica a do anterior. Temos um vilão com um exército que ameaça a Terra e os heróis têm que defendê-la. Pronto. Como o primeiro, temos um plot simples que é carregado por longas cenas de ação até chegar num final de prender o fôlego. E isso funciona? Em apenas uma palavra: sim.




É muito fácil criticar o filme dizendo que ele pega certos elementos de seu antecessor e tenta reaplicá-los novamente, mas quase todos viram o rosto do fato que é praticamente impossível fazer um filme dos Vingadores sem um exército gigantescos para os heróis lutarem contra. Um único ser contra sete outros indivíduos é brochante, e isso é lógico, principalmente para um filme desses. Inclusive, guarde minhas palavras quando eu digo que, com certeza quase que absoluta, Os Vingadores: Guerra Infinita não terá apenas o Thanos como ameaça e o vilão cósmico com certeza vai trazer o exército particular com ele. Em todo caso...

Julgar a atuação é chover no molhado. É claro que ela é ótima e é claro que ela não vai decepcionar. Cada ator faz sua parte e é isso. O que resta é falar sobre os diálogos que foram postos no roteiro por Joss Whedon e todas essas linhas são ótimas. A interação entre os heróis é muio boa e engraçadas em muitos momentos. Inclusive, o roteiro merece ganhar e, ao mesmo tempo, perder pontos por outro motivo: Ultron.

O novo vilão também segue quase que a mesma premissa de Loki, no filme anterior. Ultron é engraçado em algumas partes, ele é sarcástico e também tem um humor instável, o que o torna imprevisível, afinal você nunca sabe quando ele irá estourar de vez. E isso é ótimo. Ultron tem personalidade própria e forte e a louvável interpretação de James Spader merece ainda mais aplausos.

Já o ponto negativo fica por conta do desenvolvimento quase nulo do personagem. Ultron é criado num momento e na próxima cena ele já está estabelecido como deveria ser e pronto. Ele é mal e é isso. E isso dá uma sensação de que sua origem foi meio apressada, sendo que mais 10 ou 15 minutos de cenas que nos ajudariam a entender Ultron não machucariam ninguém.

É verdade que não são todas as pessoas que têm paciência para uma origem de personagem mais detalhada e é verdade que quando elas são rápidas e objetivas o enredo se desenrola mais dinamicamente. Mas uma coisa é uma origem rápida e direta como o o modo que a Netflix explicou o surgimento do herói em sua série Demolidor, por exemplo, e outra coisa é uma origem praticamente cortada. Você tem a impressão de algo como isso passou pela mente dos executivos da Marvel: "ah, não vamos perder muito tempo nisso. Só mostre de onde ele veio e parta pra pancadaria", e isso ficou meio preguiçoso, devo dizer. E essa sensação de "corte" fica mais evidente depois que o próprio diretor e roteirista Joss Whedon disse que seu cut original do filme tinha mais de 3 horas de duração e que o blu-ray do filme vai ser lançado como uma versão estendida, além de trazer um final alternativo.




Os novos personagens, Mercúrio e Feiticeira Escarlate, são ok. Eles não são fantásticos nem vão explodir sua cabeça, diferentemente do Mercúrio em X-Men: Dias de um futuro esquecido, por exemplo. Aqui, os personagens são muitos mais sofridos e mais sérios. Como uma adição para as cenas de ação eles dispensam comentários, mas sua história também me pareceu meio irrelevante. Há certos pontos nela que são apresentados e nunca resolvidos, e fica por isso mesmo. O Visão, por exemplo, é um personagem que não era muito esperado e teve menos tempo em tela para se desenvolver e conseguiu, de alguma forma, ser mais cativante que os gêmeos Inumanos.

E isso nos leva à uma preocupação pessoal que eu tenho com o fato de que, conforme mais e mais personagens vão aparecendo, menos desenvolvidos eles são. São apresentados alguns fatos que são esquecidos logo depois e nunca resolvidos. O que me leva a questionar o que farão em Vingadores: Guerra Infinita, por exemplo, onde a promessa é inserir uma gama gigantesca de personagens em apenas dois filmes. Me parece que isso vai acontecer mais por fan-service do que naturalmente.

Inclusive, há um fato mais pessoal e que não é muito relevante para essa crítica. Eu, pessoalmente, achei que a Feiticeira Escarlate foi muito mal utilizada, levando em consideração o potencial que ela tem. Afinal de contas, ver uma mutante de nível Ômega (classificação atribuída aos mutantes mais perigosos, como a Fênix) com capacidades de "dobrar a realidade" e deletar o "genoma X" de 98% dos mutantes do mundo ser tão "nerfada" assim é até meio decepcionante. De qualquer modo, isso é uma questão mais pessoal. Enfim...




Um dos problemas que a Marvel vem enfrentando é o fruto da necessidade do Universo Expandido. O fato de todos os filmes terem, obrigatoriamente, de se conectar de algum momento resulta em cenas que simplesmente não se encaixam e, mais uma vez, parecem ter sido apenas "jogadas" lá por motivos contratuais, como a cena em que Thor visita uma espécie de poço, por um certo motivo, que não faz muito sentido nesse filme, mas sim para o que está vindo no próximo filme solo do herói, Thor: Ragnarök.

Uma das coisas agradáveis de se ver foi a atenção do roteiro nos personagens. Ele deixou de focar nos gigantes como Capitão América e Homem de Ferro e foi para os Vingadores mais "pé no chão" como a Viúva Negra e, principalmente, o Gavião Arqueiro, delineando seus lados mais humanos e nos lembrando de que nenhum deles tem super-força ou uma super-armadura.

A última ressalva que tenho a respeito do filme é a falta de ganchos convincentes para a Guerra Civil, o próximo grande enredo da Marvel nos cinemas. Há alguns conflitos entre o Capitão e o Homem de Ferro, sim. Mas eles são muito mornos e, no fim, tudo aparenta estar bem.

De qualquer maneira, Os Vingadores: Era de Ultron é um ótimo blockbuster e mais um excepcional trabalho da Marvel, em parceria com Joss Whedon, de trazer tantos heróis num só filme e fazer dar certo. Pessoalmente, eu o considero superior ao seu antecessor, por se manter um pouco mais maduro do que antes. Ainda sim, não é um filme perfeito e certas falhas incomodam, sendo a falta de desenvolvimento do vilão a principal delas e, por minha opção, ele poderia ter aprendido um pouco com Capitão América: O Soldado Invernal, onde não há pressa pra nada, por exemplo. De qualquer modo, eu me diverti muito no cinema e tenho certeza que qualquer um que se diz nerd vai curtir também. Assista o mais cedo possível.


NOTA FINAL: 4/5

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