quinta-feira, 10 de março de 2016

Batman | O início de uma era. (Crítica)



Batman v Superman: A Origem da Justiça está logo ali e dia 24/03 poderemos ver toda sua glória em telonas de todo o Brasil...

Então que tal dar uma olhada para trás e relembrar todas as vezes que ambos os heróis deram as caras no cinema? Sendo assim, hoje nós vamos pôr a nostalgia pra funcionar.


Aviso: Caso você não tenha assistido o filme (por algum motivo), saiba que a crítica a seguir está repleta de spoilers! Você foi avisado...


Lançado no fim dos anos 80, mais precisamente em 1989, Batman foi dirigido por Tim Burton, escrito por Sam Hamm e Warren Skaaren e trouxe um elenco composto por nomes como Michael Keaton, Jack Nicholson, Billy Dee Williams e Kim Basinger.

Batman (simples e direto) foi lançado em uma época onde os filmes de super-heróis (ou baseados em quadrinhos no geral) ainda procuravam um meio de se estabelecerem no meio mainstream do cinema e até então o único que havia conseguido se firmar (em partes porque seu protagonista já causava impactos culturais avassaladores desde quando foi criado, lá em 1938) fora o filme do escoteiro voador, Superman de 1978 (e que aqui no Brasil ficou conhecido como Super-Homem, mas nós vamos falar mais sobre esse filme depois).




O Homem-Morcego, por sua vez, definitivamente não era um desconhecido do público e, àquela altura já havia protagonizado algumas das melhores histórias em quadrinhos de todos os tempos (leia-se A Piada Mortal e O Cavaleiro das Trevas, os mais conhecidos) desde sua primeira aparição lá na Detective Comics #27, em 1939. Além das HQs, o Cruzado Encapuzado já havia dado as caras na série de televisão de 1966, Batman, onde foi vivido por Adam West. Mas, ainda assim, o personagem ainda não estava firmado na tela grande e nas graças do público mais geral, mas tudo isso mudou em 1989.

Sobre o comando do novato-mas-já-estabelecido Tim Burton, Batman foi um verdadeiro marco na cultura pop. Na verdade, dizer que o filme causou um impacto monumental na indústria do cinema não é dizer o bastante. O filme causou controvérsia desde seu anúncio, principalmente pela escalação de seu ator principal (algo que todos os caras que interpretaram o Homem-Morcego no cinema sofreram, sem exceção. Na verdade, todo mundo que é escalado para interpretar qualquer personagem já estabelecido, seja por filmes, livros ou histórias em quadrinhos, sofre duras críticas. Basta ver as reações para os atores escolhidos para interpretarem personagens como o Coringa ou James Bond, assim como os já citados Batman e até mesmo o Superman. Sempre foi assim, sempre vai ser assim). Diziam que Michael Keaton — ator até então conhecido por seus papéis em filmes de comédia — era muito baixo e não tinha o físico necessário para incorporar o personagem. E todas essas afirmações eram verdades... mas e no fim? Importou? Não.

Mas a influência de Batman é inegável, e me arrisco a dizer que ele foi tão importante para o cinema quanto Tubarão e Star Wars. O hype era real e todo mundo queria ver a primeira investida do Homem-Morcego nas telonas. O filme foi acompanhado de uma enxurrada de merchandising: camisetas, bonecos, séries de TV animadas e até redes de fast-food entraram na onda da saturação de marketing que ficou conhecida como “Bat-mania”. Sério, tinha até cereal do herói preenchendo prateleiras dos supermercados. Batman não era apenas um filme de verão. Era o evento cinematográfico do ano.




E não deu outra. O filme que havia custado cerca de US$ 35 milhões para ser produzido arrebentou as bilheterias do mundo, e trouxe nada menos que US$ 411.35 milhões para os cofres da Warner Bros., isso sem falar no lucro que veio com o merchandising. Estima-se que a Warner recebeu cerca de US$ 500 milhões de dólares em caixa só com merchandising oficial do filme, ou seja, sem contar com o bootleg, o pipipitchu, o não-licenciado sendo vendido nos camelôs da vida. Desde então, desde o dia 23 de junho de 1989, o mundo do cinema nunca mais foi o mesmo, ainda mais se falarmos do cinema dos super-heróis. Pode-se dizer que todo filme de super-herói subsequente, de alguma forma, deve algo ao Batman de Tim Burton. Você vê o seu design e sua pegada mais sombria e gótica em filmes como Demolidor, Motoqueiro-Fantasma ou a série X-Men. Você ouve os ecos da trilha sonora épica de Danny Elfman em filmes que vão da série Homem-Aranha até os Vingadores. Diabo, até a aclamada trilogia Batman de Christopher Nolan bebe dessa fonte.

Mas chega de falar do legado e da importância do filme para o cinema. Vamos falar do dito-cujo. Vamos falar de Batman.

Logo após os créditos iniciais, que mostram uma animação do logo do Morcego se revelando aos poucos sob os nomes dos envolvidos no filme, um Morcego empoeirado e desgastado, sombrio, acompanhado da épica música-tema composta por Danny Elfman e que até hoje é icônica e imediatamente reconhecível (e que foi parar em outras representações do personagem, como a série de TV animada), o filme abre acompanhando uma família de mãe, pai e filho, tentando sem sucesso conseguir um táxi. Depois de frustradas tentativas, eles resolvem seguir a pé pelos tantos becos de Gotham City.

Falando em Gotham City, desde o primeiro plano do filme já se percebe que aquela cidade não é certa e que há alguma coisa de errado. A Gotham de Tim Burton é gótica e sombria, mas também é podre e corrupta, e não é necessário muita coisa pra que essa ideia entre em sua cabeça, apenas alguns segundos da primeira cena.




Voltando à família, eles resolvem seguir pelos becos de Gotham até serem abordados por bandidos. O pai é assassinado e, justamente quando você pensa que está vendo a origem do Homem-Morcego, vem a surpresa: a mãe é deixada viva juntamente ao filho. Não é o fim da família Wayne que estamos vendo aqui, apenas outro caso parecido. Um eco na história. E eis que o plano seguinte mostra uma figura encapuzada no terraço de um prédio, vendo a cena acontecer. Batman já está estabelecido, meus amigos. Não precisamos de uma história de origem (mas ela aparece assim mesmo, mais pra frente).

Sem demora, depois de uma rápida conversa entre os dois bandidos sobre os boatos de um morcego gigante cruzando os céus de Gotham durante a noite e fazendo justiça, eis que o Homem-Morcego desce sobre os criminosos e resolve o caso. Temos a memorável e épica cena em que o criminoso pergunta: “O que é você?” e temos a gloriosa resposta “I’m Batman!”. E depois não vemos o herói por um bom tempo.

E é assim que Burton decide começar sua história, sem nenhum vislumbre de Bruce Wayne no início, apenas um gostinho do Batman e depois o diretor parte para estabelecer seu universo e tratar da política, corrupção e o submundo do crime de Gotham City.

Não muito tempo depois nós vemos o personagem de Jack Nicholson, um gângster chamado Jack Napier que, mais pra frente, entra em confronto com o Cavaleiro das Trevas (que ainda é considerado um mito, ou seja, sua carreira começou não faz muito tempo) e acaba caindo num tanque de químicos, o que dá origem às características clássicas do maior vilão da história das HQs: o Coringa.




E essa cena se mantém bem fiel à origem do Coringa como representada em A Piada Mortal, onde ele também se chama Jack (embora sem sobrenome. Napier é coisa do filme mesmo) e também cai num tanque de produtos químicos, o que deixa sua pele pálida, seus cabelos verdes e um sinistro sorriso permanente estampado em seu rosto. E, assim como a HQ, na cena em que Jack vê seu rosto pela primeira vez após o acidente ele pira, se torna insano. Aliás, essa cena (que não é a mesma da HQ, apenas o contexto) é executada brilhantemente no filme, quando o personagem, meio encoberto nas sombras, vê o seu reflexo no espelho e começa uma gargalhada, a principio sutil e maníaca e depois alta, histérica e insana.

E eu acho essa interpretação do Coringa não só como a mais fiel vista no cinema live-action como também a melhor de todas (me desculpe Heath Ledger, que descanse em paz, você fez um trabalho incrível, mas o Coringa é do Nicholson). É nesse Coringa que eu vejo o mais perfeito balanço entre o palhaço teatral — com seu aperto de mão mortal, as piadas sem-graça, as risadas insanas, o revólver gigante, o super-isqueiro, a flor de lapela que jorra ácido e os trocadilhos — e o psicopata violento — com seus assassinatos e planos diabólicos — que eu já vi no cinema. Aos olhos desde que vos escreve, Jack Nicholson é o Coringa do cinema live-action (mas não a interpretação definitiva do Coringa em um meio de entretenimento fora da HQs, esse posto é e sempre será de Mark Hamill, o nosso eterno Luke Skywalker).

Da mesma forma, eu acho que interpretação de Michael Keaton excelente. Primeiramente, ao meu ver, um ator, quando escalado para ser o Batman, ele deve estar ciente e preparado para interpretar TRÊS personagens diferentes:


  • Bruce Wayne como figura pública, ou seja, o playboy, bilionário, excêntrico e babaca como visto em público;

  • Bruce Wayne como ele realmente é. O personagem que vemos interagindo com Alfred e as pessoas que ele mais se importa;

  • E, por fim, o Batman.

E, ao meu ver, Keaton faz isso muito bem e ele é um ótimo Batman por causa disso.

O longa, no entanto, não está livre de problemas, cujos maiores se encontram no roteiro. Em alguns momentos, por exemplo, parece que filme luta para encontrar o balanço certo entre a seriedade e a comédia escancarada, como na cena em que o Coringa e seus capangas invadem um museu e estragam as pinturas ao som de Prince...

Também tem a questão da ação do tempo sobre a obra. Nem todas as cenas são tão boas vistas hoje em dia e, embora a maioria delas tenham envelhecido muito bem, o mesmo não pode ser dito de outras, principalmente as que se utilizam de efeitos especiais mais elaborados.




A armadura do Batman também não envelhecendo muito bem. De certo ela é muito superior ao spandex cinza que Adam West usava quando ele interpretava o Cruzado Encapuzado, e ela faz muito mais sentido na proposta do filme, mas hoje em dia uma armadura de borracha não é tão atrativa. Além disso, ela foi a primeira a iniciar a maldição do movimento dos filmes do Homem-Morcego. Por ser rígida, os atores não podem virar a cabeça e nem se movimentar muito bem (e essa “maldição” só seria quebrada lá em 2008 com Batman: O Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan). Por isso, as cenas de luta (embora 957 milhões de vezes superiores ao que veríamos mais pra frente) são um tanto robóticas.

Por fim, a direção do filme é ótima e Burton sabe muito bem coordenar seus atores e, junto do diretor de fotografia Roger Pratt, posiciona as câmeras e enquadra as cenas muito bem, enquadrando o Homem-Morcego quase sempre com ângulos abaixo do peito do ator, demonstrando imponência, coisa bem clássica mesmo. O único problema é o uso um tanto excessivo de ângulos holandeses (o ato de inclinar a câmera, muitas vezes para dar ênfase ao drama, angústia psicológica ou tensão da cena, usado brilhantemente em filmes como Homem de Ferro ). Não é nenhum Thor mas incomoda bastante, mas isso pode ser coisa só minha.

Além disso, a ideia de que o próprio Coringa criou o Batman quando Napier assassinou os pais de Bruce Wayne parece ser uma ideia interessante (o Coringa cria o Batman e o Batman cria o Coringa), mas no fim ela só se mostra como uma coincidência absurda.

No fim das contas, o Batman de 1989 é definitivamente um dos filmes mais importantes de todos os tempos, tanto do cinema convencional quando das adaptações das histórias em quadrinhos, e representou o início de uma nova era cinematográfica. Um sucesso de bilheteria e crítica, o filme foi indicado a diversos prêmios, inclusive o Oscar (e acabou levando o Careca Dourado por Melhor Direção de Arte) e influenciou dezenas de outros filmes que sairiam nos anos e décadas seguintes. Um filme que envelheceu bem e ainda é uma ótima fonte de entretenimento.

Ah, e um adendo: o Batmóvel é foda!


AVALIAÇÃO: 4/5
"Ótimo"

E seguindo essa pegada de Batman v Superman, fiquem ligados no Titans Desatualizados porque amanhã teremos crítica de Superman, de 1978!

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