domingo, 5 de fevereiro de 2017

Um Limite Entre Nós | Atuações e um roteiro de ponta! (Crítica — Especial Oscars 2017)

De todos os seis indicados ao Oscar de Melhor Filme que já foram abordados aqui (“Até o Último Homem”, “A Chegada”, “A Qualquer Custo”, “La La Land: Cantando Estações”, “Manchester À Beira-Mar” e este), “Um Limite Entre Nós” é o mais “incomum”, e uma ótima experiência:





Um Limite Entre Nós (Fences) é dirigido por Denzel Washington e escrito por August Wilson e é baseado em sua peça teatral homônima. É estrelado pelo próprio Denzel Washington ao lado de Viola Davis. O filme recebe 4 indicações ao Oscar: melhor filme, melhor ator principal, melhor atriz coadjuvante e melhor roteiro adaptado.

O longa conta a história de Troy Maxson, um jogador de baseball fracassado que agora precisa trabalhar como lixeiro para poder sobreviver.

“Um Limite Entre Nós” é um longa curioso. Os rumores dizem que a obra — adaptada da peça teatral homônima da Brodway, escrita pela mesma pessoa, em 1983 — foi por um bom tempo considerada “infilmável”, e não é difícil de se entender o motivo. Não existem cenas de ação ou até mesmo cenas empolgantes ou de tensão, no caso. O longa trata única e exclusivamente da família Maxson e é composto de loooooongas sequências de conversas e discussões. O que é algo interessante de se dizer sobre um filme, sobre ele ser “infilmável porque só tem conversa”. De fato, boa parte do público geral não vai se interessar pela obra. Não estamos tratando de um blockbuster bilionário. Mas entre os grandes filmes da história não faltam nomes que seguem exatamente essa fórmula de longos diálogos em poucas localidades. Os exemplos são muitos: “Cães de Aluguel” (Reservoir Dogs, 1992), “12 Homens e Uma Sentença” (12 Angry Men, 1957) ou até mesmo “Rashomon” (Rashomon, 1950).




Na verdade, os outro dois principais motivos para você assistir “Fences”, além do roteiro maravilhoso, são as atuações espetaculares de Denzel Washington e Viola Davis. Assim como “Manchester À Beira-Mar”, por exemplo, este longa também chega a “não parecer um filme” em alguns momentos. É tudo tão real, interpretado tão magistralmente por Washington e Davis que você se sente apenas como uma pessoa ouvindo a discussão de uma família de verdade. E é aí que reside o show da obra.

O personagem de Denzel é o mais fascinante: um homem bastante amargo e frustrado, nos é apresentado inicialmente como um cara legal, um pai de família. Um homem comum que trabalha duro para por comida na mesa e um teto sobre a mulher e os filhos. Você já gosta dele antes mesmo que ele precise falar uma segunda frase. Mas é ao longo da trama que são apresentados pequenos vislumbres de seu verdadeiro eu, e nós aprendemos um pouco mais sobre seu passado. Temos essas longas sequências de conversas que não são mais de que papo de bar, mas alguém diz algo errado, ou o filho de Troy lhe olha de uma maneira diferente e ele simplesmente se transforma numa pessoa completamente. Uma pessoa ruim.

E Washington interpreta o personagem de uma maneira tão fluída, tão natural, com trejeitos e maneirismos que parecem coisas mínimas mas que trazem todo o realismo necessário para a cena. Em um dos melhores momentos do longa, Troy fala um pouco sobre seu relacionamento com seu pai, e não existe no mundo outra pessoa que poderia ter entregado esse monólogo como o ator. Davis também não fica para trás, em outro grande momento que retrata uma discussão entre ela e o marido. De todos os nomes que estão concorrendo aos prêmios de melhor ator principal e melhor atriz coadjuvante, esses dois parecem ter as melhores chances.




A direção de Washington também não é algo para se falar mal. Ela não é chamativa, mas faz seu trabalho muito bem. Junto da diretora de fotografia Charlotte Bruus Christensen, Denzel faz um ótimo trabalho com os enquadramentos, por exemplo, nas cenas, transmitindo bem a mensagem necessária, como em um plano meio cluastrofóbico durante a discussão fascinante de Davis e o ator.
Ainda assim, há um momento, durante o terceiro ato, em que a trama toma um rumo bastante enfadonho e clichê, o que provoca aquela característica reação do “aaah, sério?”.

No fim das contas, “Um Limite Entre Nós” é uma ótima experiência, carregada por um grande roteiro e atuações fantásticas. Mesmo com o deslize por volta do terceiro ato, ainda é um belo filme.


AVALIAÇÃO: 4.5/5
"Excelente"

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